O Coletivo Pandoras chega a Mato Grosso do Sul, com uma união da artes cênicas e debates sobre o universo feminino. As apresentações acontecem em Campo Grande no dia 26 de setembro e em Dourados em 03 de outubro.
Em razão da pandemia, o projeto que seria de circulação presencial em cidades das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, acontecerá em 13 diferentes canais virtuais de exibição em cada uma das localidades, envolvendo para isso uma rede de produtoras e produtores culturais de cada localidade, além de organizações sociais e coletivos artísticos. Em Campo Grande a produção local é do Circo do Mato e em Dourados, do Sucata Cultural. Conforme a assessoria o projeto foi lançado em Goiás e as apresentações passam por 13 cidades do Tocantins, Bahia e Mato Grosso do Sul.
Após cada exibição dos espetáculos haverá um debate (via live), sempre com figuras de destaque, integrantes do projeto e convidad@s. Em Campo Grande, a convidada será a artista contemporânea Laura Anderson Barbata – mexicana radicada em Nova Iorque, que vai abordar “Os corpos das Mulheres e o poder exercido sobre”. Já em Dourados, a live será com Ermínia Silva – doutora em História, co-coordenadora do Grupo Circus na Unicamp e autora de obras relevantes sobre circo.Pastrana é um espetáculo de lambe-lambe que se apropria da história da Monga - A Mulher Gorila, muito popular em feiras e circos Brasil afora, para sintetizar a história de Júlia Pastrana. Já “A Visita de Chico” remonta o imaginário da mulher moderna, que lida com a vida cotidiana e recebe a inesperada e apaixonante visita de Chico, quando tem que dar conta de um amor que é uma representação e da sociedade, que não aceita o corpo feminino como ele é.
Em Campo Grande, a ação conta com apoio do produtor cultural Anderson Lima, que destaca o pioneirismo do projeto, que se adaptou à realidade imposta pela pandemia de Covid-19.
O projeto é realizado pelo coletivo Pandoras, correalizado pela Cultivo Projetos e Soluções Criativas e Círculo Filmes. Apresentação Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás, Secretaria de Estado da Cultura.
Espetáculos
Em Pastrana, o truque original da Monga, personagem que se transforma em gorila por conta de um efeito ótico de luz é desconstruído, invertendo a ordem as imagens e dos signos. Ao invés de começar com a mulher se transformando na monga, na caixinha de lambe-lambe, Julia, a mulher gorila, entra primeiro e se transforma em uma ‘monstra’ dentro dos padrões sociais: moça, branca, loira e com os seios siliconados, performando o ‘padrão europeu’.
Já o espetáculo A visita de Chico mescla circo com a história de Soldara, uma palhaça que se veste de homem para ganhar a vida como artista de circo. Ao final de cada apresentação, ela retorna à sua casa, emaranhada às exigências da profissão, do corpo e dos projetos de vida, contudo, com seus encantos e desajustes, segue com a pacata vida com imaginação, até se apaixonar, mas o tenro romance é acometido por uma circunstância indesejada, da qual Soldara se envergonha e foge.
Live - Os corpos das mulheres e o poder exercido sobre.
Por que convidamos Laura Anderson Barbata?
Laura é mexicana nascida em Sinaloa. É artista visual, e trabalha principalmente com figurinos. No final da década de 90 Laura desenvolveu o figurino de um espetáculo que contava a história de outra mexicana: Julia Pastrana, uma do século XVI que participava dos Freak Shows. Esses shows exploravam a imagem de pessoas de corpos desviantes do padrão vigente da época (deficientes, pessoas de etnias diversas, mutações genéticas), e neles Julia era apresentada como a Mulher Macaca, Mulher Urso e a mulher mais feia do mundo. Julia teve uma trágica e singular história e depois de morta foi mumificada, virando um objeto que durante 153 anos foi mudando de donos, até que Laura a encontrasse e iniciasse um processo de repatriação do corpo da artista, que também é mexicana e de Sinaloa. Foram dez anos de um processo que envolvia universidade, governos, padres e plateia. Laura acredita que a volta de Julia para SInaloa era o minino que a sociedade poderia fazer para devolver sua dignidade.
Este será o mote para conversarmos sobre dominação dos corpos: dos femininos e dos desviantes. Sobre estado, ciência, relações sociais, e toda esta cadeia panóptica que estamos inseridos. E refletir como a arte pode colaborar para diminuir as dores no mundo.
Coletivo Pandora
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