Mauro Guimarães e Patrycia Andrade - Foto: Larissa Pulchério |
A proposta de montagem surgiu no grupo em 2015 com o desejo de produzir uma montagem bem elaborada e que não fosse óbvia demais aos olhos dos menores e também dos maiores, sabendo que os pequenos são críticos e questionadores, buscando mergulhar na poética através do faz de conta. Assim, com a proposta de trazer ao público uma forma peculiar de apresentação, mantendo a característica de trabalho do Circo do Mato de mesclar o teatro e o circo em seus trabalhos, acrescentando a manipulação de objetos.
Dirigido por Anderson Bosh, que também construiu o texto atendendo aos anseios do grupo, desta junção construiu-se uma nova história à partir das histórias João e o Pé de Feijão e Peter Pan.
A montagem foi contemplada pelo Prêmio Rubens Correa de Teatro 2016, com investimento da Fundação de Cultura de MS, SECTEI e Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, e as apresentações de estreia foram realizadas no Teatro Prosa SESC Horto em Campo Grande MS em março de 2017.
Dirigido por Anderson Bosh, que também construiu o texto atendendo aos anseios do grupo, desta junção construiu-se uma nova história à partir das histórias João e o Pé de Feijão e Peter Pan.
A montagem foi contemplada pelo Prêmio Rubens Correa de Teatro 2016, com investimento da Fundação de Cultura de MS, SECTEI e Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, e as apresentações de estreia foram realizadas no Teatro Prosa SESC Horto em Campo Grande MS em março de 2017.
Yasmin Fróes e Douglas Caetano - Foto: Larissa Pulchério |
Capitão Gancho, um ardiloso e tenebroso vilão, invade a Terra das Nuvens banindo João e a sua mãe para a Terra do Nunca. O malvado aprisiona e escraviza o pai do menino e hipnotiza sua mãe para não se lembrar de nada. Exilados na Terra do Nunca a mercê dos infortúnios do lugar, João decide vender sua vaca Mimosa e acaba trocando-a com um ardiloso mascate por sonhos e feijões mágicos, que fantasticamente o levam de volta a Terra das Nuvens, as suas origens e histórias perdidas no passado. João enfrenta o gigante tenebroso e ardiloso “Capitão Gancho” em uma batalha heroica pela libertação de seus pais e a reconquista de sua casa na Terra das Nuvens.
Patrycia Andrade e Murillo Atalaia - Foto: Larissa Pulchério |
Encenada a partir do universo fantástico da imaginação infantil, ela recria ambientes mambembescos e brincantes, propondo-lhes um estado grotesco, animalesco, irreal e imagético, de humor carregado de crítica, como são os remakes cinematográficos de clássicos literários, os modernos HQ’s e os longa metragem de desenhos animados, bem como o imaginário popular das crianças de um mundo pós-moderno.
O aporte de todas essas ações em simbiose propiciou uma nova fábula, que temperada com nuances da cultura sul-mato-grossense e suas questões sócio-político-culturais, resultou num ambiente de reflexão critica e posicionamento, que é ao mesmo tempo lúdico, brincante e de diálogo direto com público, sem deixar de ser engraçado, divertido, curioso, pictoricamente bonito e artístico.
A obra em si é um lugar de reflexão e posicionamento crítico, tanto dela mesma, quanto do seu entorno, sua comunidade e questões características de sua cultura e posicionamento geográfico - questões frequentemente negadas ao conhecimento de crianças e jovens, público alvo desse projeto - não perdendo seu caráter lúdico, recreativo e artístico.
Murillo Atalaia - Foto: Larissa Pulchério |
Texto e direção :: Anderson Bosh
Argumento :: Circo do Mato
Direção de arte e objetos de cena :: Mauro Guimarães
Elenco :: Douglas Caetano, Mauro Guimarães, Murillo Atalaia,
Patrycia Andrade e Yasmin Fróes
Direção musical :: Carlos Anunciato
Produção executiva e comunicação :: Laila Pulchério
Vozes infantis em off :: Álvaro Atalaia, Eduardo Fróes, Isabela Fróes de Souza,
Isadora Salles, Mavi, Pedro Navarrete e Yasmin Alves.
Figurinos :: Marcelo Silva e Anderson Bosh
Fotografia :: Larissa Pulchério
Designer gráfico :: Diego Ouro Preto
Costuraria :: Fátima Silva e Cida Silva
Douglas Caetano, Patrycia Andrade, Mauro Gimarães, Yasmin Fróes, Murillo Atalaia e Mimosa - Foto: Larissa Pulchério |
Douglas Caetano - Foto: Larissa Pulchério |
Patrycia Andrade - Foto: Larissa Pulchério |
Douglas Caetano e Mauro Guimarães - Foto: Larissa Pulchério |
João e o Pé de Feijão na Terra do Nunca – A vida está para a brincadeira
Nilcieni Maciel | 09 de março de 2017
Graduação em Letras - Português / Espanhol
Pós-graduação em Antropologia e História dos Povos Indígenas - EAD - UFMS
Professora Escola Alternativa - L. Portuguesa, L. Espanhola e Literatura
Integrante do Circo do Mato Grupo de Artes Cênicas
Atriz Núcleo Experimental UFMS
Ao assistir, no último dia 02, ao espetáculo João e o Pé de Feijão na Terra do Nunca, do Circo do Mato Grupo de Artes Cênicas, compreendi o rico estado de poesia e, ao mesmo tempo angústia, propiciado por essa grande fronteira chamada Mato Grosso do Sul.
Encenado a partir do que eu chamaria de estética da simplicidade, muito comum nas brincadeiras infantis – em que se cria um mundo inteiro com o que parece pouco aos destreinados olhos adultos –, o cenário e as personagens se constroem diante do público, apostando na imaginação e na bagagem de leitura de mundo que cada espectador traz consigo. O lúdico despertado caprichosamente pela harmonia entre circo e teatro, característica marcante do grupo.
É inevitável não nos determos à representação da infância de João: um retrato da responsabilidade laboral precoce, atribuída à crianças em todos os cantos do mundo, seja tendo que buscar o sustento fora de casa, seja nas tarefas domésticas, em detrimento de se preocupar com o presente que ganhará de Natal, porque a preocupação com a fome é mais imediata. No entanto, João também representa o lado sonhador de toda criança, rica ou pobre, que tem a mesa farta ou a mesa parca, sonhos que as permitem superar toda dificuldade encontrada pelo caminho.
Explorando o universo maquinário e a roupagem cada vez mais industrializada que o cotidiano vem adquirindo, a vaca mimosa funciona – exatamente este verbo – custosamente para alimentar João e sua Mãe e, não em vão, o leite é produzido já nas embalagens longa vida, único meio pelo qual muitas crianças o veem chegar à mesa do café da manhã, o que é irônico, sendo o nosso estado grande produtor de gado bovino. Ora, não seria exatamente esse o fator que leva a humilde família de João a desertar de sua terrinha? Quão familiar soaria aos pequenos produtores rurais ou aos indígenas a cena em que o ardiloso Capitão gancho, de chapéu e berrante, ilude João com as promessas de “viver o lado bom da vida”? E o que dizer da perda de memória da pobre Mãe, seria a representação de alguns eleitores?
Nos menores detalhes a riqueza poética de um povo que muitas vezes edifica sua identidade na negação de suas raízes étnicas, históricas e culturais, e que sofre com o descaso do poder público. Uma peça que evidencia a luta diária dos trabalhadores da arte, do campo e da cidade, que se angustiam a cada retrocesso social, mas que transformam esses sentimentos em combustível para seguir na busca pelo pão de cada dia. Um espetáculo para toda pessoa que mantém dentro de si a magia de ser criança, o levar a sério a brincadeira que evidencia tudo o que acontece a nossa volta. João e o Pé de Feijão na Terra do Nunca nos convida a um momento de ludicidade, simultâneo à criticidade singela, que há em todo brincar.
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