Release
No final de 2008 o grupo pretendia montar um novo espetáculo, algo que
falasse da própria realidade, a idéia foi se construindo e foi se aproximando
daquilo que queríamos mostrar. O projeto foi contemplado pelo FIC MS 2009
(Fundo de Investimentos Culturais), o grupo convidou a diretora, atriz e
comediante Larissa Câmara, campo-grandense que reside no Rio de Janeiro há
alguns anos; para a dramaturgia foi convidado Anderson Bernardes, que
juntamente com Aline Duenha produziram o texto. Uma equipe foi contratada para
construir o trabalho, com destaque para música, figurino e preparação corporal,
atendendo sempre as expectativas do grupo.
A estréia foi realizada dos dias 1 a 4 de outubro no Teatro Prosa do
SESC Horto, em Campo Grande, que em todas as sessões teve a casa lotada.
É um espetáculo muito bem aceito pelo público e já participou de alguns
festivais nacionais e internacionais. Reúne algumas das habilidades dos artistas
do grupo na dança, música, circo e leva ao palco um espetáculo bonito,
divertido e engraçado levando à reflexão do que é a vida do artista.
Sinopse
Encruzilhada O Último Cabaré é a história de uma trupe de artistas que
sobrevivem de um cabaré de variedades, que agrega teatro, dança, circo e
música, mas, como é comum no meio, decide encerrar suas atividades por falta de
público e patrocínio. De susto surge um patrocinador que condiciona o apoio, a
sua participação no espetáculo; assim o grupo se vê em sua primeira
encruzilhada, inicia-se então uma ardilosa e divertida trama para satisfazer as
necessidades do grupo e de seu potencial patrocinador. Com nuances poéticas, o
espetáculo bebe na fonte dos cabarés dos anos 20, fazendo uma referência a esse
universo. Toda essa construção utópica, leva à reflexão do que é a vida do
artista: continuar? Desistir? Para onde ir?
Ficha Técnica
Diretora - Larissa Câmara
Roteirista da Rede Globo.
Roteirista/colaboradora Mundo Canibal TV - 1ª Temporada - Multishow.
Atriz, dramaturga/roteirista, diretora teatral e comediante stand-up.
Trajetória do espetáculo
- 12º Festival de Inverno de Bonito – jul2011.
- Teatro Prosa SESC Horto – Campo Grande/MS - jun2011.
- Circuito de Teatro de MS, Aparecida do Taboado e Cassilândia/MS – out2010.
- 17º Isnard de Azevedo - Festival de Teatro de Florianópolis/SC – set2010.
- Circuito de Teatro de MS, Três Lagoas, Brasilândia e Nova Andradina/MS – set2010.
- 4º
FESTCAMP - Festival Nacional de Teatro de Campo
Grande/MS – ago2010.
- Festival América do Sul em Corumbá/MS – mai2010.
- SESC EnCena - Campo Grande/MS – abr2010.
- Festival Boca de Cena - Campo Grande/MS – mar2010.
- Bienal de Teatro de MS CENA DO MATO - Campo Grande/MS - 2010
- Estreia e 4 apresentações Teatro Prosa SESC -
FIC MS – Campo Grande/MS - set2009.
Crítica
Cabaré muito engraçado
Por Luca Maribondo
Sábado, 3 de outubro de 2009
"Encruzilhada" é uma homenagem às artes dramáticas e uma
crítica mordaz ao mecenato de Estado —qualquer Estado. A homenagem se
desenvolve na medida em que o espetáculo encenado pelo grupo Circo do Mato
coloca o circo, o cabaré, a dança e o próprio teatro dentro da ribalta -
é a peça dentro da peça. A homenagem ao teatro fica explicitada na citação a
Jean-Baptiste Poquelin, que se imortalizou como Molière... A crítica ao
mecenato se faz no tratamento dado ao personagem do Mecenas, que é relegado.
A peça (não é bem uma peça, mas na falta de outra qualificação, vamos
chamá-la de peça mesmo) conta a história de uma trupe de artistas que sobrevive
do trabalho em um cabaré —um cabaré em que acontece tudo o que é corriqueiro
numa casa do gênero: teatro, dança, circo, música e variedades. Só tem um
problema: a platéia não comparece e, em conseqüência, não tem grana que chegue.
Assim a companhia decide encerrar suas atividades por falta de público e patrocínio. Mas eis que, no último momento, surge do nada um patrocinador, que condiciona seu apoio à sua participação no espetáculo; assim, no dizer deles mesmo, "o grupo se vê em sua primeira encruzilhada, inicia-se então uma ardilosa e divertida trama para satisfazer as necessidades do grupo e de seu potencial patrocinador".
Patrocínio, nome irônico do personagem do patrocinador, é o mecenas e, como tal, encarna o mecenato com todas as suas virtudes e defeitos. É o homem que ajuda o grupo seguir em frente na sua árdua lida de preservar a cultura e divertir suas platéias, mas é também o sujeito que exige muito em troca do seu apoio. A crítica ao mecenato do Estado fica sutilmente implícita. Nada é de graça neste nosso mundo.
No programa da peça, os membros da trupe observam que, "com nuances poéticas, o espetáculo bebe na fonte dos cabarés dos anos 1920, fazendo uma referência a esse universo. Toda essa construção utópica, leva à reflexão do que é a vida do artista: continuar? Desistir? Para onde ir?" E o Circo do Mato faz isso com maestria, provocando muitas risadas na platéia que lotou o Teatro do Horto/Sesc nas noites de quinta e sexta-feira passadas.
Usando recursos do teatro mambembe e do teatro popular, na definição mais usual de que tem o objetivo de devolver o teatro ao povo, para que ele não seja privilégio das classes mais favorecidas, a trupe real demonstra que a mordaça aumenta a mordacidade. E fica claro que a mordaça é imposta pelo Estado Mecenas. E a mordacidade faz todos rirem bastante durante os pouco mais de 60 minutos do espetáculo que, se não é perfeito, tem um ritmo alucinante e faz a todos rirem a bandeiras despregadas, como se dizia antigamente.
E esse riso solto vem por conta de que em seus sagrados momentos de mau humor, toda pessoa deve ter o direito de fazer gestos obscenos ou chutar os paus das barracas pra desabafar, sem ser chamada de inflexível, furiosa, colérica ou destemperada. Como a etiqueta, as normas de convivência social não nos permite essas explosões, resta-nos a arma terrível e poderosa que é o humor.
E Anderson Bernardes, o autor do texto, a diretora Larissa Câmara e o elenco formado por Arce Correia, Aline Duenha, Yago Garcia, Mauro Guimarães e Luciana Kreutzer usam o sarcasmo, a ironia e a crítica mordaz —ferramentas que, no fundo, são muito mais letais que falta de modos, como pode atestar qualquer pessoa ou instituição atingida por línguas lambuzadas de ácido— a ponto de agradar crianças e adultos. Na verdade, eles realizam um espetáculo que não deve nada ao teatro dos grandes centros do país.
Luca Maribondo é jornalista, escritor, designer gráfico, editor de video,
publicitário, roteirista e redator.
http://casadomaribondo.blogspot.com.br/2009_10_01_archive.html
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