Nilcieni Maciel | 09 de março de 2017
Graduação em Letras - Português / Espanhol
Pós-graduação em Antropologia e História dos Povos Indígenas - EAD - UFMS
Professora Escola Alternativa - L. Portuguesa, L. Espanhola e Literatura
Integrante do Circo do Mato Grupo de Artes Cênicas
Atriz Núcleo Experimental UFMS
Foto: Larissa Pulchério |
Ao assistir, no último dia 02, ao espetáculo João e o Pé de Feijão na Terra do Nunca, do Circo do Mato Grupo de Artes Cênicas, compreendi o rico estado de poesia e, ao mesmo tempo angústia, propiciado por essa grande fronteira chamada Mato Grosso do Sul.
Encenado a partir do que eu chamaria de estética da simplicidade, muito comum nas brincadeiras infantis – em que se cria um mundo inteiro com o que parece pouco aos destreinados olhos adultos –, o cenário e as personagens se constroem diante do público, apostando na imaginação e na bagagem de leitura de mundo que cada espectador traz consigo. O lúdico despertado caprichosamente pela harmonia entre circo e teatro, característica marcante do grupo.
É inevitável não nos determos à representação da infância de João: um retrato da responsabilidade laboral precoce, atribuída à crianças em todos os cantos do mundo, seja tendo que buscar o sustento fora de casa, seja nas tarefas domésticas, em detrimento de se preocupar com o presente que ganhará de Natal, porque a preocupação com a fome é mais imediata. No entanto, João também representa o lado sonhador de toda criança, rica ou pobre, que tem a mesa farta ou a mesa parca, sonhos que as permitem superar toda dificuldade encontrada pelo caminho.
Explorando o universo maquinário e a roupagem cada vez mais industrializada que o cotidiano vem adquirindo, a vaca mimosa funciona – exatamente este verbo – custosamente para alimentar João e sua Mãe e, não em vão, o leite é produzido já nas embalagens longa vida, único meio pelo qual muitas crianças o veem chegar à mesa do café da manhã, o que é irônico, sendo o nosso estado grande produtor de gado bovino. Ora, não seria exatamente esse o fator que leva a humilde família de João a desertar de sua terrinha? Quão familiar soaria aos pequenos produtores rurais ou aos indígenas a cena em que o ardiloso Capitão gancho, de chapéu e berrante, ilude João com as promessas de “viver o lado bom da vida”? E o que dizer da perda de memória da pobre Mãe, seria a representação de alguns eleitores?
Nos menores detalhes a riqueza poética de um povo que muitas vezes edifica sua identidade na negação de suas raízes étnicas, históricas e culturais, e que sofre com o descaso do poder público. Uma peça que evidencia a luta diária dos trabalhadores da arte, do campo e da cidade, que se angustiam a cada retrocesso social, mas que transformam esses sentimentos em combustível para seguir na busca pelo pão de cada dia. Um espetáculo para toda pessoa que mantém dentro de si a magia de ser criança, o levar a sério a brincadeira que evidencia tudo o que acontece a nossa volta. João e o Pé de Feijão na Terra do Nunca nos convida a um momento de ludicidade, simultâneo à criticidade singela, que há em todo brincar.
Encenado a partir do que eu chamaria de estética da simplicidade, muito comum nas brincadeiras infantis – em que se cria um mundo inteiro com o que parece pouco aos destreinados olhos adultos –, o cenário e as personagens se constroem diante do público, apostando na imaginação e na bagagem de leitura de mundo que cada espectador traz consigo. O lúdico despertado caprichosamente pela harmonia entre circo e teatro, característica marcante do grupo.
É inevitável não nos determos à representação da infância de João: um retrato da responsabilidade laboral precoce, atribuída à crianças em todos os cantos do mundo, seja tendo que buscar o sustento fora de casa, seja nas tarefas domésticas, em detrimento de se preocupar com o presente que ganhará de Natal, porque a preocupação com a fome é mais imediata. No entanto, João também representa o lado sonhador de toda criança, rica ou pobre, que tem a mesa farta ou a mesa parca, sonhos que as permitem superar toda dificuldade encontrada pelo caminho.
Explorando o universo maquinário e a roupagem cada vez mais industrializada que o cotidiano vem adquirindo, a vaca mimosa funciona – exatamente este verbo – custosamente para alimentar João e sua Mãe e, não em vão, o leite é produzido já nas embalagens longa vida, único meio pelo qual muitas crianças o veem chegar à mesa do café da manhã, o que é irônico, sendo o nosso estado grande produtor de gado bovino. Ora, não seria exatamente esse o fator que leva a humilde família de João a desertar de sua terrinha? Quão familiar soaria aos pequenos produtores rurais ou aos indígenas a cena em que o ardiloso Capitão gancho, de chapéu e berrante, ilude João com as promessas de “viver o lado bom da vida”? E o que dizer da perda de memória da pobre Mãe, seria a representação de alguns eleitores?
Nos menores detalhes a riqueza poética de um povo que muitas vezes edifica sua identidade na negação de suas raízes étnicas, históricas e culturais, e que sofre com o descaso do poder público. Uma peça que evidencia a luta diária dos trabalhadores da arte, do campo e da cidade, que se angustiam a cada retrocesso social, mas que transformam esses sentimentos em combustível para seguir na busca pelo pão de cada dia. Um espetáculo para toda pessoa que mantém dentro de si a magia de ser criança, o levar a sério a brincadeira que evidencia tudo o que acontece a nossa volta. João e o Pé de Feijão na Terra do Nunca nos convida a um momento de ludicidade, simultâneo à criticidade singela, que há em todo brincar.
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